sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Drácula

Olá hunters, desculpa não ter postado por tanto tempo! Tenho uma história sobre o DRÁCULA para postar!

                                   DRÁCULA


    Ao subir na diligência, vi o cocheiro conversando com a estalajadeira. Só consegui captar algumas palavras, que eles repetiam várias vezes, como ORDOG, "Satã", e vrolok, "lobisomem" ou "vampiro". Depois o cocheiro estalou o chicote, e partimos. 

[...]

    De vez em quando eu acendia um fósforo para olhar as horas. Era quase meia-noite. Eu aguardava, cheio de expectativa.

    Então, ao longe, nas montanhas que nos circundavam, os lobos se puseram a soltar uivos intensos e agudos. Continuamos subindo, agora numa escuridão quase total, pois as nuvens encobriam a lua. Por fim caí no sono.

   Acordei de repente, quando a carruagem parou no pátio de um imenso castelo em ruínas. Nem um raio de luz filtrava pelas enormes janelas negras. As ameias quebradas projetavam-se em ziguezague contra o céu enluarado. O cocheiro me ajudou a descer e em seguida sumiu, com carruagem e tudo. Depois do que me pareceu um tempo interminável, ouvi passos pesados, atrás da porta enorme, e percebi, através das frestas, uma luz se aproximando. Ouvi também o barulho de correntes se entrechocando  e de maciços ferrolhos se abrindo. Uma chave girou na fechadura, e a porta se escancarou.

Deparei então com um velho alto, de bigode branco comprido, todo vestido de preto. Segurava na mão uma antiga lanterna de prata, a chama bruxuleante produzindo trêmulas sombras. Com um gesto convidou-me a transpor o umbral, dizendo "Seja bem-vindo a minha casa. Entre por sua livre e espontânea vontade". [...]

  "Conde Drácula?", perguntei.

  "Sim, sou Drácula. Seja bem-vindo a minha casa, Mr. Harker", repetiu.

   Meu anfitrião conduziu-me então a uma sala iluminada, onde vi uma mesa posta para o jantar. [...]

   Quando terminei de comer, pus-me a observá-lo. Seu rosto era vigoroso, com narinas arqueadas. O comprido bigode não escondia a boca rígida e cruel, os dentes brancos e pontiagudos ultrapassavam os lábios extraordinariamente vermelhos para um homem de sua idade. As orelhas sem cor terminavam em ponta. As unhas longas e finas pareciam muito afiadas.

   Curiosamente, as palmas das mãos tinham pelos no centro. Quando ele se inclinou em minha direção, uma horrível sensação de enjoo assaltou-me; meu anfitrião percebeu e recuou. Olhei pela janela, para ver os primeiros clarões do amanhecer, e ouvi o uivo de muitos lobos. Os olhos do conde brilharam. "Escute... são os filhos da noite. Que música compõem!" Então ele se aprumou, dizendo: "Deve estar exausto. Seu quarto está arrumado. Ficarei fora até amanhã, portanto durma bem".

   Há neste local e em tudo o que aqui se encontra alguma coisa tão estranha que não consigo me tranquilizar. Gostaria de estar longe daqui, em segurança. Gostaria de nunca ter vindo para cá. Passei a noite conversando com o conde sobre os requisitos legais para efetuar a compra da casa que minha empresa encontrara para ele em Carfax, a leste de Londres.

  Dormi apenas algumas horas, mas já estava escuro quando acordei, no final da tarde seguinte. Instalei meu espelho perto da janela e comecei a barbear-me. De repente senti a mão gelada de Drácula pousar em meu ombro e ouvi sua voz dizendo-me: "Bom dia". Levei tamanho susto que me cortei, embora superficialmente. Cumprimentei-o  e continuei me barbeando. Para meu espanto o espelho não refletia a imagem do conde, que, contudo, esta ali, atrás de mim. Um fio de sangue escorria-me pelo queixo. Olhei em torno, procurando um curativo. Ao ver o corte em meu rosto, o conde me agarrou pelo pescoço, os olhos brilhando. Então sua mão tocou as contas do terço, do qual pendia o crucifixo, e sua fúria  se dissipou tão depressa que mal pude acreditar.

  "Tome cuidado para não se cortar", ele falou. "Neste lugar pode ser mais perigoso do que você pensa."

    Em seguida estendeu aquela mão terrível, abriu a pesada janela e jogou meu espelho par fora com toda força, o espelho se quebrou em mil pedaços nas pedras do pátio. Depois ele saiu sem dizer nenhuma palavra.

    Quando entrei na sala de jantar encontrei meu desjejum preparado, mas não vi meu anfitrião em parte alguma. [...]

    Terminei a refeição e fui explorar o castelo [...]. Deparei-me com portas e mais portas , todas trancadas. Aqui não há saídas além das janelas. Começo a temer que este castelo seja uma prisão, e eu um prisioneiro.                [...]

   Agora estou sozinho, preciso descer esta imensa escadaria e achar um modo de sair deste lugar medonho.

                                                                        Bram Stoker. Drácula. Tradução de Hidegard Feist
 

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